Não Esconda Rolagens Atrás do Escudo do Mestre. Role Abertamente, é Bem Melhor.

Arte por dndoggos.

O Escudo do Mestre consiste numa placa de papel dividida em três ou quatro secções dobráveis, de modo que, quando devidamente montado, forme um tipo de proteção, onde o Mestre pode esconder suas anotações e preparações dos olhares curiosos dos jogadores. Muitos mestres aderem à prática de esconder rolagens atrás do escudo, para que seus jogadores não saibam sobre os resultados. Outros vão além e alteram os resultados das rolagens para que adequem àquilo que eles consideram melhor para sua história. Eu não concordo com essa prática e acho que, na verdade, rolar abertamente pode trazer muito mais consequências positivas para uma aventura.

Primeiramente, tratemos sobre as motivações para se rolar atrás do escudo. Defensores da prática afirmam que ocultar as rolagens do grupo pode trazer mais tensão ao jogo, uma vez que os jogadores não saberão exatamente as consequências e resultados dos conflitos, o que pode trazer mais atenção ao aspecto do storytelling ao invés dos números e mecânicas. Considero um bom argumento, mas, ao mesmo tempo, é possível perceber que ele carrega algumas perspectivas problemáticas acerca do jogo.

O peso dos efeitos das ações dos personagens pode acabar sendo jogado sob as costas do Mestre, pois o apontamento dos dados não pode ser verificado e a relação de confiança entre os participantes pode acabar abalada. Contudo, a maior desvantagem de se rolar atrás do escudo é o risco de alterar rolagens. "É fácil, ninguém vai notar a diferença", não é? "É o melhor para a história", alguns podem dizer.

A necessidade de alterar rolagens parte da ideia incorreta de que uma partida de RPG precisa contar uma boa história. A função do Mestre não é contar uma história, mas sim proporcionar situações interessantes com as quais os personagens dos jogadores possam interagir e criar conflitos que desafiem suas capacidades. Quando se rola um dado, se abraça a ideia de que qualquer resultado pode decorrer dali e que o destino daquela determinada ação possui consequência incerta. Se você não quer aceitar o resultado de uma rolagem, então para que rolar um dado?

Aleatoriedade é um aspecto muito importante para o jogo e trapacear nas jogadas pode destruir muito da parte divertida de se jogar RPG. Se alterar rolagens fosse tão importante assim, jogadores deveriam poder fazer também. O canal Regra da Casa possui uma esquete bem legal sobre isso, onde eles apresentam, de maneira irônica, o Escudo do Jogador.

Por outro lado, ao jogar dados abertamente, o Mestre deixa claro que aceita o resultado daquela rolagem, seja ela qual for. Isso cria tensão em todos os participantes, pois a vitória ou derrota pode vir dali, de algo que foge do controle de qualquer um da mesa. Se existe um deus, ele é o d20.

RPG é um jogo, não há motivos para esconder isso. Rolagens de dados não vão atrapalhar a imersão se você souber os momentos certos de efetuar uma jogada. O Mestre também joga o jogo, e parte da graça são esses momentos onde um resultado aleatório pode decidir os rumos da aventura.

Um grupo de jogo que possua um grau bem estabelecido de confiança, inclusive nas rolagens, e tenha os objetivos do jogo esclarecidos em mente (interpretar personagens e interagir com situações desafiadores fictícias) pode maximizar o potencial de entretenimento proporcionado por uma partida de RPG. É claro que rolagens podem ser perigosas para o desenvolvimento da narrativa, mas esse perigo é parte da diversão.

Caso você ainda possua certo temor acerca da aleatoriedade, talvez você deva refletir sobre quando rolar ou não um dado. Muitas vezes ações podem ser resolvidas apenas através da descrição, o que afasta a possibilidade de uma falha num momento que você considere inoportuno. Mas falarei mais sobre disso em algum outro momento. O que importa agora é repensar sobre como você deve encarar uma rolagem de dados, seja ela aberta à mesa ou oculta atrás do escudo.

Referências

Por Que Rolar Dados Abertamente

I Roll In The Open