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| Arte por artbalitskiy. |
Sinceramente, eu acho estúpido que tenha se tornado um consenso da comunidade afirmar que determinadas escolhas durante a criação de personagem são consideradas objetivamente erradas. Tente procurar relatos de jogadores de Warlock que decidiram não pegar Eldritch Blast - sempre se seguem longas discussões acerca da clara falta de otimização e necessidade de se selecionar "a melhor Cantrip do jogo". E sabe de uma coisa? Isso é verdade. Selecionar Eldritch Blast é realmente a melhor escolha. E é aí que mora o problema.
A partir da terceira edição de Dungeons & Dragons, se iniciou um padrão de alta customização durante a criação de personagem através da apresentação de várias classes com inúmeros poderes, talentos, habilidades etc., o que, a princípio, pode parecer muito interessante. Ter centenas de opções, milhares de maneiras diferentes de construir mecanicamente seu personagem é muito proveitoso. É divertido brincar com o sistema e suas possibilidades de construir uma ficha legal. Contudo, é inevitável que algumas opções se destaquem em relação a outras: um talento situacional que conceda um bônus menor numa situação muito específica não é tão bom quanto outro que pode conceder uma ação adicional por rodada, por exemplo. O segundo é objetivamente uma opção mecanicamente melhor, mais otimizada. Ah, mas você pode argumentar que conhece uma build de personagem que se aproveita do talento 1, o deixando muito mais poderoso e otimizado. No fim das contas meu ponto permanece. Nesse caso, simplesmente a opção mais otimizada, a escolha "correta" passa a ser o talento 1.
Subitamente, as milhares de maneiras de se jogar se afunilam, são restringidas a aquilo que é bom, aquilo que será mais útil e deixará seu personagem mais poderoso. A criação de personagem se transforma num jogo à parte, no qual você deve cuidadosamente selecionar as melhores opções para a função que você deseja cumprir. Algumas pessoas vão além e preparam toda sua build desde o primeiro ao último nível antes mesmo de iniciar a campanha.
Não me leve a mal, eu entendo. As mecânicas de um jogo estruturam a forma como ele será jogado, e, como afirmei anteriormente, selecionar as melhores habilidades e poderes de fato é mecanicamente melhor. O problema, para mim, é a normalização dessa estrutura que oprime o jogador e o pressiona a escolher aquilo que é objetivamente mais forte, tudo em prol de uma falsa sensação de "customização".
Eu simplesmente odeio que existam milhares de criadores de conteúdo de RPG cujo foco é explorar o sistema e apresentar o "Top Cinco Melhores Combos" ou coisa do tipo. Claro que pode ser divertido brincar com esse tipo de coisa, mas me irrita a forma como D&D se transformou num jogo de criar o personagem mais "quebrado", onde você, como jogador, é questionado por não ter selecionado Eldritch Blast para sua ficha de Warlock.
No final das contas, a quantidade de regras criadas para todas as possíveis situações apresentadas pelos talentos e habilidades limitam não somente a criação de personagem, mas também aquilo que ele pode ou não fazer durante o jogo. Se sua build foi preparada com o objetivo de atacar com seu martelo, sua melhor opção sempre será atacar com seu martelo. Se você tem +10 para atacar, por que você escolheria fazer qualquer outra coisa diferente? Não seria a opção otimizada. Não seria a opção certa. Você escolheu conversar em vez de atacar com o martelo? Você está jogando errado.
Considerando tudo que foi aqui pontuado, é importante esclarecer que essa situação se apresenta como um problema estrutural, um problema do sistema e não das pessoas que o jogam. O sistema foi construído para ser jogado dessa forma e suas mecânicas corroboram com sua maneira de ser experienciado. Por isso, talvez você deva refletir com mais atenção acerca do sistema e mecânicas que você utiliza em sua mesa e a experiência que lhe é proporcionada através delas.
Essas são minhas conclusões acerca de toda essa estrutura de builds de personagem e mecânicas de jogo que constatei através da reflexão das minhas experiências em todos os meus anos de RPG. Mas lembre-se, essa é apenas a minha opinião, sinta-se livre para discordar de mim.
Referências
What's the Deal with Character Builds and Min/Maxing?
Who Else Doesn't Like Playing Builds Over Playing Characters?
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